quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

No amazon.com

ME DEIXE MORRER EM SEATTLE

Na primeira Osasco Cultural

FLAL FESTIVAL LITERÁRIO

Com a participação da autora Karem Schumacher e ainda muitos oiyros autores, se liga !!!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

quarta-feira, 8 de julho de 2015

terça-feira, 2 de junho de 2015

ME DEIXE MORRER EM SEATTLE




VIII



Layne não ficou com Scott, não poderia ficar naquela casa, partiu, voltou a pé, da mesma forma que chegara, debaixo de chuva, quando estava no centro da cidade, circulando pelas ruas, conhecia algumas pessoas, com as quais costumava se drogar, algumas prostitutas que o adoravam, apesar de nenhuma delas ter estado com ele, elas o amavam, pelo simples fato de ele sempre ser gentil com todas, e nunca as tratar como vadias, mas nunca as levava para cama, elas diziam que ele era o anjinho, o carinha estranho, tão lindo, mas só queria se drogar, nada de sexo, nem com homens, nem com mulheres, a conversa que se espalhava a boca pequena, era que ele mantinha uma relação de amor com a irmã, ninguém tinha certeza, mas todos comentavam, que ela o dominava e o mantinha preso a si, que o rapaz só tinha olhos para ela, era uma loucura, todo mundo dizia, mas naquele mundo louco que viviam, nada mais surpreendia, tudo era possível, a loucura naquela cidade parecia uma regra, a periferia vivia seus dias de maior agitação, nunca antes a movimentação por aqueles lados havia sido tão grande, o fluxo de pessoas por lá aumentara consideravelmente nos últimos meses, jovens de várias partes do país haviam se mudado para cidade, diziam que era por causa do cenário musical, que havia explodido pelo mundo e algumas bandas de lá eram o maior sucesso por todo o planeta, isso fez com que os olhos do mundo se voltassem para a cidade e consequentemente, muitos jovens sonhadores, desejassem viver nesse cenário de rebeldia e loucura rock n' roll. Isso era bom, para o underground, os negócios aumentavam, as prostitutas trabalhavam mais. Em contrapartida os crimes e mortes também aumentavam em proporção equivalente. O consumo de drogas aumentou, jovens perdidos pelas ruas, bêbados circulando também. Scott achava bom, assim podia destruir mais facilmente a loucura do fanático, pois na mesma proporção o fanatismo aumentava, visto que a divulgação de que o demônio estava caminhando pela cidade e arrebatando almas para o inferno, fez com que a população vivesse os tempos mais loucos jamais vistos. De um lado o cenário da juventude perdida, em meio à homossexualidade, e promiscuidade, drogas e perdição, a própria visão do inferno, do outro, a visão alienada, fanática e violenta dos pregadores e falsos moralistas, envenenados, a cada dia pelo godsmack, o bispo ia transformando a cidade num verdadeiro campo da guerra, e sentia enorme satisfação, queria instalar o caos, para assim mostrar todo seu poder santo, de destruição do mal. O que ocorria em suas igrejas era grotesco e selvagem, talvez pior do que qualquer cena vista nas ruas, o mal verdadeiro, estava no fanatismo cego, na ignorância manipulada, na crença violada com a maldade de um homem que abusava da sua capacidade de coagir as massas e transformá-los em ratos assustados, dependentes da santa cura, que na verdade era a destruição.



Era hora de um dos cultos em uma das igrejas, estava lotada, homens do bispo circulavam sem parar, distribuindo "a água", no começo de todos os cultos era obrigatório que todos bebessem a tal água, que era contaminada com o godsmack, o bispo diziam que era preciso beber água para purificar a palavra, para que todos entrassem limpos, e iniciassem as orações com as bocas purificadas, por todos o mal do homem estava em sua boca, os fiéis bebiam afoitos, todos queriam estar puros e serem dignos dos olhares dos bispo, todos queriam ser escolhidos para subir no palco e receber a purificação na frente de todos, e ali, enquanto bebiam a água eram envenenados,  durante o culto, a coisa ia fazendo efeito, a agitação geral ia aumentando, e o bispo ia direcionando as sessões como quisesse, se queria causar espanto, alucinações coletivas, histeria generalizada, qualquer coisa, mas o que ele mais gostava, era de operar o milagre da cura, de fazer as pessoas com deformações decorrentes do uso da droga, se curassem milagrosamente, coisa que sabia ser possível ministrando um antídoto, que rapidamente agia, liberando o efeito do corpo e com ajuda do controle da respiração, fazia a pessoa ir retornando ao normal, um milagre que ninguém nunca vira, uma coisa tão real. O bispo era aclamado, como um santo, com poderes vindos diretamente do céu, era o eleito, mesmo quando agia com violência na frente de todos.
Os fiéis acreditavam que era necessário, o santo homem sabia o que precisava ser feito, suas mãos e palavras tinham o dom, ele era especial, sempre agia certo, homem santo.
Mesmo quando em uma das sessões ele e seus homens espancaram um homem que se recusava a receber a cura, e gritava que tudo ali era uma farsa,  e que o bispo era um mentiroso, que todos estavam sendo enganados, mesmo quando os homens do bispo começaram a bater no homem, até que ele ficasse desacordado e caído no chão, os fiéis acreditaram que quem falava ali era o próprio demônio que estava dominando aquele pobre coitado, que não tinha mais controle de si, e que havia sido necessário usar da força para tirar de seu corpo o espírito maldito que estava querendo destruir o santo homem, aquele homem foi morto pelos capangas, foi morto ali, no próprio palco, na frente de todos, mas o santo homem disse a todos que ele estava desacordado porque o diabo quando saiu de seu corpo, o havia deixado muito fraco, sem condições de voltar a si, e fora levado embora para ser cuidado pelas santas irmãs do culto, a mais pura mentira, jogaram o corpo do homem em um incinerador, acabaram com qualquer vestígio de sua existência, nunca mais se ouviu falar dele, quando foi questionado em dos cultos, ele contou emocionado aos fiéis, que o rapaz havia se curado totalmente e resolvera partir para o Texas,  arrumaram um trabalho para ele por lá.
A maioria dos cultos tinha sempre cenas macabras, coisas pavorosas, cenários criados para incitar ainda mais medo, as pessoas que frequentavam aqueles cultos, em vez de saírem de lá com o espírito leve e renovado como seria de se esperar, saíam ainda mais oprimidas e cheias de medo e culpa, mas acreditavam ser assim que as coisas deviam ser mesmo, o mundo era cruel, então as coisas deviam ser duras, o bispo era um homem rígido e exigente com seus fiéis, todos acreditavam cegamente que essa era a única maneira de conseguir salvar o mundo das garras do diabo, que estava devastando a cidade, o medo que sentiam quando saíam dos cultos, era porque na verdade seus corações ainda não estavam puros e livres do mal, ainda estavam cheios de corrupção e lascívia, deveriam confessar ao bispo essas coisas, porque ainda tinham medo, e se isso ainda acontecia, como o santo homem dizia, era porque o diabo ainda soprava em seus ouvidos e de alguma maneira, ainda estavam dando ouvidos, era necessário receber alguma punição, ser castigado, pagar, prestar contas para tentar a purificação, a libertação do demônio era muito difícil, ele era tão sedutor, o demônio fazia as pessoas sorrirem e amarem e sentirem desejos, mas o bispo dizia que tudo isso era errado, e a única forma de viver corretamente, era em silêncio, com medo, e pedindo para ser perdoado por todos os pensamentos impuros, era preciso beber a água, para se purificar, afinal tantas pessoas estavam recebendo o toque do diabo e se transformando em monstros, era possível ver pelas rua, as aberrações que andavam, uma coisa pavorosa, as deformidades que o diabo era capaz de causar, e ainda o número de prostitutas e homossexuais aumentando sem parar, isso também era obra do demônio, tantos homossexuais, um horror, e diziam que o demônio tinha um nome e atendia por Scott, e que tinha uma noiva que tinha como amante seu irmão e um outro homem que ela enfeitiçara com suas artes infernais.
Sessões de exorcismo eram comuns nos cultos, o bispo adorava fazer seus shows, eram na verdade espetáculos de aberrações, a plateia gritava em êxtase, de forma alucinada, a histeria era generalizada, por momentos, nem mesmos os homens do bispo conseguiam conter a agitação, em geral o bispo mandava que as luzes fossem apagadas  começava a dar ordens de comando para que as pessoas se acalmassem, aquilo sempre funcionava, manipular as massas é uma coisa simples se você tiver a malícia e a força necessária de comando, e isso o bispo tinha de sobra, aliada à sua maldade, conseguia controlar o público e reiniciar os cultos, nesses dias, as pessoas costumavam sair caladas, com medo, o homem costumava dizer que havia travado uma luta com o diabo dentro da sua igreja, e o havia expulsado e vencido com seu poder maior, os fiéis crédulos e ignorantes, sob efeito da drogas, nem conseguiam discernir direto sobre o que havia acontecido ali dentro, muitos saiam contando fantasias de coisas que tiravam apenas de suas mentes inventivas, fatos que não haviam acontecido, ou alucinações decorrentes da água envenenada, era mais deprimente do que qualquer cenas que pudesse acontecer nas ruas.


segunda-feira, 18 de maio de 2015

ME DEIXE MORRER EM SEATTLE

VII



Ela ouviu passos do lado de fora, medo, a porta se abrindo, a figura repugnante do bispo adentrando com outros dois homens que ela nunca tinham visto, não eram os mesmo que a tinham levado para lá.
-Como vai jovem? Espero que esteja aproveitando da nossa hospedagem, nossa suíte é do seu agrado?
Ela não respondeu, permanecia olhando para o homem, impassível. Estava apavorada, mas não ia demonstrar isso para aqueles porcos, na verdade estava tentando fazer a mudança, se conseguisse agora, conseguiria estraçalhar todos eles de uma só vez.
-Não perca seu tempo doçura, você não vai conseguir virar um monstrinho agora. Falava entre dentes, se aproximou, e puxando seus cabelos com força a forçava a olhar para ele.
-Coloquei uma dose extra em você, não vai virar porra nenhuma aqui, ela podia sentir se hálito de vinho e cigarros, completamente nojento, vindo daquele homem, ele lambeu seu rosto, rindo de forma maldosa.
-Vamos fazer você implorar para acabar com a sua raça, você vai entender o que é sentir dor querida, e puxava com mais força seus cabelos, forçando sua cabeça para trás machucando.
-Tirem a roupa dela, deixem sem roupa por uns dias, diminuam a temperatura.
-Com prazer chefe, vou adorar tirar as roupas dela. Começaram a puxar seu vestido com força, ela não ofereceu resistência seria pior, ele aproveitavam para acariciá-la, as mãos deslizavam pelo seu corpo, em todos os lugares, quando arrancaram sua calcinha, era visível a excitação dos dois idiotas, um deles pegou sua mão e a forçava a esfregar seu pênis.
-Sente gatinha, olha só o que te espera, vou enfiar tudinho em você, falava, com a voz baixa, excitado, asqueroso. O outro estava arrancando seu sutiã e apertava seus seios, com força, enquanto se esfregava em suas costas, o bispo observava, achando graça, fumava um de seus cigarros compridos, parado na porta observando enquanto os homens faziam o que fora mandado, um deles estava agora chupando os seios dela. Ela apenas fechava os olhos e pensava, isso é apenas o começo, é o melhor que pode me acontecer.
-Chega, deixem a vadia agora.
-Puxa chefe! Agora que eu tô no ponto, eu ia fazer ela dar uma chupada.
-Nada disso seu idiota, se eu souber que alguém apareceu aqui sem minha ordem e tocou nela sem que eu ordenasse, vai acertar as contas direto comigo entenderam? Falava com expressão tão feroz, que nenhum deles ousaria desobedecer.
-Saiam, me deixem falar com ela a sós.
-Mas chefe, ela é perigosa, não é?
-Saiam! - Um grito apenas.
Se aproximou, agachou-se perto dela novamente, viu que ela se encolhia.
-Estar nua diminui a coragem não é mesmo? Ria com sarcasmo.
-Uma cadela desprotegida, nua, parece até frágil quando se olha assim, eu podia pegar você agora.
-Não faço o seu tipo, prefere as que ainda não atingiram a puberdade, não é? Gosta de machucar seres mais fracos, de ver a dor nos olhos.
 Aquilo o deixou com raiva, desferiu um tapa no seu rosto com toda a força de que era capaz.
-Cadela, vagabunda de merda, você, a vadia, do rei dos becos, a amante do demônio, a meretriz que seduziu o próprio irmão, tem um outro homem com quem se deita, uma vagabunda, drogada, um demônio, monstruosa, como ousa.
-Pedófilo de merda.
Desferiu mais outros tantos tapas no rosto dela, sua raiva era enorme agora.
-Pedófilo, pederasta, sádico.
O bispo se levantou, ajeitou suas roupas, estava descomposto, tentou pareceu normal.
-Você ainda está viva, porque estou esperando o demônio chegar pra te resgatar, apenas por isso, senão, já estaria me deliciando em usar meus mais variados instrumentos em você, e fazer você urrar, mas logo farei, estou apenas esperando um pouco mais, a espera, é uma das melhores formas de tortura sabia? Pode enlouquecer. Talvez eu mande meus rapazes virem brincar com você depois, eles ficaram loucos pra fazer coisas com seu corpo maldito.
Falou isso com desprezo, como se fosse uma criatura superior, se aproximou dela, ficou encarando por segundo e por fim cuspiu em seu rosto. Levantou novamente.
-Cadela do diabo, você não imagina o que te espera.
Saiu da cela, ou que quer que fosse aquele lugar em que a haviam colocado, agora ela estava completamente desprotegida, nua, com frio, o lugar era úmido, sabia que agora as coisas iam começar a se complicar.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

ME DEIXE MORRER EM SEATTLE

CAPÍTULO VI


VI



Ela sentia tanto medo, tudo de novo, não era possível, dessa vez estava sozinha, Layne, não estaria ali para ver, seria mais fácil de suportar.
E pensar que Eddie a estava esperando, talvez imaginando que o abandonara, ah, não podia suportar, só de pensar isso, sua dor era maior do que qualquer coisa que pudessem fazer ali com ela, pensar que Eddie pudesse ir embora da cidade, esquecê-la, sentir raiva, pensando que ela preferira ficar com os outros, desespero. Nunca iriam achá-la, nem mesmo Scott. Nenhum barulho, nem passos, nem vozes, nada, só esse barulho de água correndo pelos canos, esse frio.
-Acho que dessa vez vão me matar mesmo, que merda, Eddie...Layne.
Só conseguia pensar que logo eles chegariam e começariam tudo outra vez, ainda se conseguisse se transformar e acabar com todos eles, mas eles tinham aquele porcaria que a deixava paralisada, como será que tinham conseguido aquilo? Quem tinha criado essa merda e entregado na mão desse maldito fanático alucinado?
-Se eu soubesse quem, acabaria com ele com minhas próprias mãos, seria um prazer.
 Não sabia se era dia ou noite, nem há quanto tempo estava lá, parecia uma eternidade, não tinham deixado nem água para que ela bebesse, primeiramente iam usar a tortura psicológica, provavelmente, iam tentar atrair Scott, talvez estivessem reservando seu corpo, como sobremesa apenas, e Scott fosse o prato principal, ela seria a isca, sabiam que tentariam achá-la, que de alguma forma, Roberto e Scott já deveriam estar nas ruas em busca de informação, mas quanto ao Eddie, meu Deus, o que vão dizer a ele? Seu querido amor seria envolvido nessa sujeira toda, de uma forma ou de outra, ela sabia que agora, ou ele partiria de vez, ou estaria no meio da confusão.



As retaliações eram mútuas, a cada ataque do bispo contra um travesti ou uma prostituta, na rua, Scott mandava seus homens destruírem os homens do bispo, tentava evitar que inocentes fossem atacados, mas as vezes era inevitável, uma parte da população já parecia zumbis, sob efeito do godsmack, a coisa reagia de formas diferentes, afetava partes do cérebro desconhecidas, nunca se sabia o ia acontecer com cada indivíduo, o que se podia observar com certeza, era que, quanto mais ignorante e com instintos violentos a pessoa tivesse, mais animalesca seria a forma desenvolvida da reação à droga. Na verdade isso é uma coisa que acontece com relação à qualquer droga ou mesmo com relação à bebida, as substâncias apenas fazem aflorar o que cada um tem dentro de si, a diferença básica é que o godsmack trazia a mudança física, que era o gancho que o  bispo precisava para mostrar ao povo o dedo do diabo, e provar que suas palavras eram verdadeiras, que o demônio estava andando pela terra e amealhando as almas perdidas, formando seu exército infernal para trazer enfim o inferno para cima e reinar.
Costumava expor as pessoas deformadas pelas alterações da droga na frente no palco de seus templos, durante os cultos, e dizia curar aquilo, com seu poder vindo dos céus, o que aquela gente incrédula nunca poderia imaginar, é que aquela alteração poderia ser momentânea, como Scott e os outros costumavam usar, era apenas uma questão de aprender a controlar os batimentos cardíacos e a respiração, manter o controle de certas funções corporais, para reverter a mudança ou criá-la, as vezes, um momento de raiva era suficiente para a explosão acontecer, o maldito bispo se aproveitava da ignorância para manter o medo  na mente das pessoas, e com suas palavras ia controlando a pessoas na frente do público maravilhado, que via, estupefato, aquela pessoa deformada ou endemoniada, voltando ao normal, recobrando  a consciência, e por conta da dor que sofreu por dias ou semanas, incapacitada de se manifestar ou de claramente dizer qualquer coisa, sem saber como estava voltando ao seu estado normal, considerava aquilo um milagre do santo bispo e de toda aquele circo armado.
Aquilo vinha se espalhando a largo,  o poder milagroso do santo bispo, ele livrava qualquer pessoa do domínio do demônio, era como estar vivendo na idade média, e ver que depois de tanto séculos e tanta evolução a ignorância humana continua exatamente quase no mesmo patamar daquela época, de nada adiantaram, tanta evolução na medicina, tecnologia e tudo mais,  o ser humano ainda é  uma criatura crédula, medrosa, apegada  ao medo, às crendices religiosas, e qualquer coisa que aconteça, que altere a normalidade dos acontecimentos, passa a ser considera uma coisa demoníaca, sempre será mais fácil atribuir a culpa de tudo na conta do diabo, o pobre coitado, sim o diabo é  um pobre coitado, que leva a culpa por todo o mal que o homem pratica, o diabo foi criado para que o homem pudesse passar sua culpa para alguém e alegar para si mesmo, que todo o mal, todos os atos hediondos que cometeu em vida, foram motivados, por uma força maior, que o obrigava  a fazer aquilo,  para justificar sua natureza malévola, para aliviar o peso da sua primitividade natural, que apesar de séculos e séculos de evolução da raça humana, o homem na terra ainda é um ser primata, cheio de instintos animais, que por força de religiões e outras convenções, é obrigado a esconder, e que por sua vez acabam se tornando, taras, psicoses, esquizofrenias , que são manipuladas por pessoas ainda piores como os bispos que usam e alimentam ainda mais o mal humano, transformando em culpa tudo o que cada ser carrega escondido dentro de si.
Era o que o asqueroso bispo fazia melhor em sua seita.




A batida na porta era de certa forma inesperada, as pessoas não costumavam aparecer na sua casa sem aviso prévio, era uma regra, aquilo o deixou, de certa forma alarmado.
Como estava fumando ali na sala mesmo, foi abrir com um certo sobressalto, e qual não foi sua surpresa ao ver a pessoa para diante na soleira.
-Imaginei que ia me procurar, mas não que apareceria aqui em pessoa. Era Eddie, sabia que ele estava lá por causa do desaparecimento de Penny, foi a atitude que mais relutou em tomar em toda a sua vida, procurar o homem que mais detestava, mas que era o único que poderia dar notícias, ou ao menos indicar o paradeiro dela, ou seus últimos passos.
-Eu se pudesse não estaria aqui, mas como deve saber, ela não retornou, e pelo que sei, não está aqui também, o irmão me procurou, foi atrás dela, então, se nem ele sabe onde ela está, é sinal de que algo aconteceu, e só você pode me dizer o que está acontecendo.
-Não é assim tão simples.
Eddie deu uma risada irônica.
-Claro que não é tão simples, essa merda toda que vocês vivem, toda a bagunça, o inferno que virou essa cidade, esse lixo que vocês usam, e agora, está sendo espalhado por todo lugar, as coisas que estão aparecendo por aí, um verdadeiro inferno!
-E obviamente a culpa de tudo isso é minha, e isso que você está me dizendo, não mesmo? eu que estou fazendo isso, criando as aberrações, fazendo a merda toda.
-Olha aqui, não vim ficar debatendo porra nenhuma com você preciso saber onde ela está, o que está acontecendo, eu quero que todo o resto se foda, se ela estiver em apuros, preciso saber entendeu?
-Veja, as coisas estão um pouco complicadas agora, e não vou hesitar em tirar você do caminho, preciso me concentrar e tomar providências com todo cuidado, ela está em perigo sim, em grave perigo, não posso precisar o que está acontecendo, não vou mentir pra você, mesmo porque, me agrada ver você sofrendo, me tirou ela, agora vem aqui e quer que eu preste contas, e de dê satisfação.
Eddie estava tão transtornado que não conseguia dizer nada, apenas olhava para Scott estupefato, sua raiva se acumulando, sua vontade era matá-lo ali mesmo, como ele podia dizer assim na sua cara, que ela estava em perigo, e continuar assim impassível? Como se não fosse nada? 
-Eu preciso que me diga exatamente o que está acontecendo. Sua raiva era tão intensa, que falava baixo, se explodisse agora, provavelmente Scott o pusesse pra fora a ponta pés, tentava manter o controle, apesar do desespero.
Scott, queria provocar, permaneceu frio, foi até um armário que tinha na cozinha, tirou dali uma caixinha metálica, Scott costumava deixar caixinhas como essa espalhada por todos os cômodos da casa, tirou seu pó, como sempre, preparou  seus tiros e aspirou, seus olhos assumiram o brilho feroz que a droga proporciona, a arrogância, que já era uma coisa natural, ficou mais estampada em seu rosto, fez sinal ao outro oferecendo a droga, ao que o Eddie, com raiva, recusou, Scott retomou a conversa.
-Já estou tomando minhas providências, fique tranquilo.
-Eu quero dessa vez, estar dentro da coisa.
-Você não pode, não conseguiria fazer o que tem que ser feito, vou mandar meus rapazes te levarem pra longe daqui por um tempo, assim que eu tiver notícias dela, peço pra buscarem você.
-Você não pode fazer isso cara.
-Posso, não posso colocar o brinquedinho da minha criança em risco, apesar de você ser como a gente...
Scott falou propositadamente, estava cansado de ver essa proteção, ia jogar Eddie no meio da fogueira, que se dane, não ia mais proteger essa cara, porque deveria? Para ficar vendo sua garota amando seu rival? E ainda por cima ficar protegendo para que nada acontecesse com ele? Não faria mais isso, ele que encarasse a realidade.
-O que você está dizendo? Que merda é essa agora? 
-Estou dizendo, que sua amada, não é assim tão sincera com você, que agiu pelas suas costas, que fez você ingerir nossa droga, e você tem aí dentro alguma coisa, nunca sofreu nenhuma alteração? Nunca teve nenhuma mudança, percepção ou qualquer coisa diferente no seu corpo?
Eddie já não escutava mais o que Scott estava falando, apenas sua cabeça estava repassando fatos ocorridos, coisas que haviam acontecido, ele tinha visões, seus instintos eram apurados, mas ele considerava tudo apenas coincidências, confusões, sonhos, nada que pudesse ser levado em conta, achava na maioria das vezes que eram puro instinto ou até mesmo imaginação.
-Não pode ser, ela...não faria...eu...
-Faria, como fez com o irmão quando quis fugir daqui, fez o irmão virar o monstro que é, aquele garoto completamente louco, é um monstro, e foi ela que fez ele ficar assim, o irmão que ela ama, e você, o amor da vida dela, falava isso com tom de desprezo, ela garantiu que você se tornasse forte e resistente, encare os fatos, ela é má, cruel, ela é tão monstruosa quanto, bem, quanto pode ser.
Eddie andava pela cozinha, eles nem tinham ido para outro lugar da casa, a conversa tinha se desenrolado ali mesmo, Scott, cheirava novamente, tinha tido sua vitória, conseguira, deixar seu rival, ali desesperado, sabia que não era o momento adequado, mas não teria outra chance como essa de atacar o homem que de certa forma tinha levado embora a única mulher a quem tinha dado real valor ou amor.
-Agora vá embora, preciso sair, as ruas estão um caos, preciso tomar providências, meus homens estão sendo mortos todos os dias, os fanáticos estão nas ruas atacando tudo e todos, pregando que o demônio está a solta, você não tem visto?
Eddie ainda não tinha aceitado tudo que fora dito, ainda não engolira as palavras cruéis, foi em direção a porta, sem dizer nada, andava sem parecer saber para onde estava indo.
Essa pequena vitória, tinha um gosto amargo para Scott, sabia que depois se voltaria contra ele, se as coisas acabassem bem.
-Achei que precisava saber, não era certo passar a vida achando que ela era sua princesa encantada, ela não é, ela é um bicho, como eu e os outros não adianta fingir que não vê.
Eddie continuou andando sem olhar pra trás, não queria mas ouvir.

Continuava caminhando, foi até seu carro, não tinha forças nem para abrir a porta do veículo, chorava, sua tristeza era pela fato de sua amada estar desaparecida, talvez morta, e agora pelo fato de saber, que ele tinha dentro de si o veneno, e que havia sido dado a ele pela mulher da sua vida, por seu amor, porque ela havia feito isso? Porque nunca tinha contado? Ele sabia que ela tinha todo um lado escuro na sua vida, ele podia ver com os olhos da mente, ele tentava não enxergar aquelas coisas, ele sabia da história dela com aquele cretino, e aceitava aquilo, sabia da estranha relação com irmão, mas sabia também que seu por  ele era verdadeiro, ela já tinha dado inúmeras provas de que o amava realmente, sabia que ela era uma mulher diferente estranha até, que tinha essas ligações com esses dois homens, que faziam parte da sua vida, até mesmo com Roberto,  ele aceitava tudo aquilo, ele entendia, que ela era uma pessoa diferente, e isso era a maravilha, ela não era uma dessas mulheres choramingas românticas, que precisam estar sempre ouvindo que são amadas, e ficam vigiando você, pra saber o que está fazendo e com quem, não ela era uma mulher que exercia um fascínio diferente, era louca, e calada, e nunca escondera sua relação com Scott, uma relação meio doentia, e seu irmão, uma coisa estranha e mais forte que tudo, ela aceitava as pessoas, sem questionar. e quando se conheceram, foi como se o mundo tivesse deixado de existir, Eddie nunca se esqueceria daquele dia, ela parecia frágil, perturbada, mas estava sentada quieta, sozinha, parecia estar tentando passar despercebida, mas ela era como um raio de sol ali, e ele precisou ajudar, iam levar ela, aqueles caras, ela olhava em desespero para os lados tentando uma maneira de escapar, quando Eddie se aproximou fingindo ser um amigo, aquilo fez com que os homens ficassem confusos, e Eddie aproveitou o momento e a tirou dali, a levando para um lugar movimentado, onde eles não poderiam agir sem chamar demais a atenção. Aquilo tudo girava em sua cabeça, que doía, sua raiva era tão imensa, entrou no carro, tentou manter o controle, enfim conseguiu ligar o carro e partir em direção à sua casa.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

V



O bispo, havia sido um belo homem, porem com o tempo, acabou se tornando uma criatura abjeta e nojenta, o uso do godsmack, talvez, tenha deformado seu caráter e seu corpo, ou tenha apenas revelado o que ele possuía em seu interior, e trazido pra fora toda a imundície da sua alma pervertida  e fanática, tinha hoje aspecto macilento, oleoso seu rosto tinha marcas originadas de feridas ou pústulas, como varíola, sabe-se lá, tinha engordado pelo menos trinta quilos ou quarenta quilos desde que deixara Scott, depois que desapareceu ninguém teve notícias por anos de seu paradeiro, reapareceu com sua seita, pregando essa coisa, que ele chama de religião, dizendo que o demônio anda na terra, não muito diferente de outras religiões por aí, mas o que o difere dos outros, é que ele carrega consigo o godsmack, que distribui, entre os fiéis, como o milagre, que vai livrar a terra do demônio, o demônio que segundo ele é um belo homem, que carrega consigo uma legião de belas pessoas, que se drogam, são fortes, quase indestrutíveis, e disseminam a prostituição, o crime, e todo o mal que há na cidade hoje em dia. E ele o guerreiro da glória divina está disposto, junto com seu exército eleito a exterminar a todos eles, sem piedade, com crueldade se preciso for.
O bispo esconde, de seus fiéis cegos e ignorantes,  toda a sua sujeira, toda sua perversão, e seus gostos por crianças indefesas, e coisas mais estranhas ainda, difíceis de serem imaginadas por pessoas comuns, ele descobriu que se distribuísse o godsmack em pequenas doses, conseguia fazer as pessoas desenvolverem medos e paranoias, e assim conseguia fazer com que ficassem sem discernimento, dessa forma  ele consegue controlá-las, e dizer que tudo o que elas estão sentindo é culpa do demônio, ele está fazendo coisas, deixando as pessoas violentas, com vontade de fazer sexo bizarro, com pensamentos ruins, e outras coisas, ele penitencia os fiéis com crueldade, usa de violência, aplica castigos, os prende em jaulas, como formas de mostrar a purificação em público.
Quando seus homens chegaram com Penny, ele estava num desses seus momentos de "diversão", com uma garota de no máximo doze anos, ele a obrigava a chupá-lo, a garota chorava, ele puxava seus cabelo com força, e a obrigava a engolir o membro inteiro a fazendo engasgar, ela soluçava, ele gemia de prazer vendo o desespero da garota, e dizia baixo que era para que ela se purificasse, que nunca mais roubasse.
-Vamos, criança, chupa, e se purifique, seja abençoada! Ele gritava! Em seguida levantava a garota com violência e a jogava num sofá, abrindo suas pernas e começando a lambê-la como um animal, nesse momento as batidas na porta.
-Maldição! quem é o maldito filho da puta! Abriu a porta.
-Desculpe interromper bispo.
-Foda-se, agora já brochei, foi até a garota, e a puxou.
-Levem embora, deem dinheiro suficiente pra ficar quieta, ainda vou querer terminar o que não fiz nessa daí.
-Trouxemos a garota.
-Ótimo, vamos deixá-la isolada por uns dias, pra enfraquecê-la, sabemos que aquilo é um monstro, não podemos vacilar, colocaram, ela onde eu mandei?
-Sim, bispo, está lá embaixo, completamente isolada, ninguém vai achar ela nunca, ela pode gritar pro resta da vida, não tem como descobrir onde ela está.
-Bom trabalho rapazes, bom trabalho, podem se divertir com uma garotinha hoje, ou o que vocês quiserem garotinhos, a porra que quiserem, a maldita orgia que quiserem, escolham.
-Obrigado bispo.
Os capangas não cabiam em si, fariam a farra, sabiam que quando o bispo liberava a farra, entregava pra ele, crianças, meninos e meninas, eles faziam o que queriam, machucavam, queimavam, torturavam, drogavam, violentavam, eram uma diversão.
Esses homens eram criaturas, da mais baixa espécie, treinadas pelo bispo para agir como torturadores, e sentir prazer, foram criados para isso, sentiam prazer, quanto mais frágil a criatura em suas mãos, maior o prazer que sentiam, seus cérebros foram preparados, uma monstruosidade sem fim.



As ruas estavam agitadas, as notícias estavam circulando sobre os ataques aos travestis, pensava-se de início que eram ataques ocasionais de algum maníaco, mas depois foi preciso avisar ao pessoal das ruas que era uma retaliação dos fanáticos, que seria preciso tomar cuidado, que o contra-ataque ia começar também, que os fanáticos sofreriam ataques, perigo nas ruas. Scott era impiedoso, ainda mais quando sofria ataques da forma como estavam acontecendo, ele mostrava todo seu lado animal.
Scott estava circulando pela cidade, pelos cantos, como ele costumava dizer, queria ver como as coisas estavam, saber o que andava acontecendo, quem estava nas, enfim se inteirar dos assuntos, sempre fazia isso.
Por acaso, encontrou com Roberto, que estava com um grupo de travestis na rua, pareciam inquietas e agitadas, falando alto, todas falavam ao mesmo tempo, quando viram Scott se aproximando, aquietaram-se aos poucos, e procuram se dispersar discretamente.
-Veja se não é o homem mais delicioso dessa cidade. Roberto sempre tinha palavras lisonjeiras e brincalhonas para Scott, mesmo em situações de conflito, eram amigos, tudo que já tinham vivido, Scott também "criara" Roberto, o trouxera junto com os irmãos, Roberto era mais velho que os outros dois. Scott tinha um laço de amizade diferente com ele, era mais confidente e conselheiro, depois de muitos conflitos estabeleceram uma amizade sólida, Scott salvara a vida de Roberto diversas vezes, e Roberto também por assim dizer, dedicava lealdade a Scott.
Fora Roberto quem sugerira que deviam criar seu exército com as minorias, trazer essas pessoas marginalizadas para estarem ao seu lado, sabiam que o bispo tentaria destruir todos eles, e  se essas pessoas soubessem que tinham alguém a quem recorrer, um espécie de protetor, eles seriam como soldados, dispostos a morrer defendendo as ruas e seus irmãos nessa maldita batalha que aquele fanático infernal e lunático resolvera travar, o godsmack deve ter destruído sua razão, afetado aquela cabeça de merda.
-Hey garota como está, se divertindo muito?
-Sabe que não me divirto mais ultimamente, agora sou uma "mulher de negócios", preciso cuidar dessas crianças perdidas, vejas quantas estão jogadas nas ruas, olhe como o estão aumentando, cada vez mais, fumando pedra, virando zumbis, morrendo pelos cantos.
-Sim, tem acontecido muito mesmo, tenho tentado tirar essa merda daqui, mas os filhos da puta do bispo se encarregam de espalhar cada dia mais, se deixassem só o pó seria mais fácil de lidar, essa merda dessa pedra, porra, não dá, ainda mais agora, que ele está usando godsmack nas igrejas, agora está fodendo tudo de vez.
-Você tem certeza? Ele está usando mesmo?
-Absoluta, as ondas de violência gratuitas, em mulheres comuns, pais de famílias, tudo gente da igreja dele, você não tem percebido?
-Na verdade não, estou mais preocupado com as meninas nas ruas, e o que elas vem sofrendo.
-Estou sabendo, por isso estava dando meu giro.
-Sei que você não ia deixar as crianças abandonadas.
-Não, não vou deixar, precisamos começar ir atrás dos caras, começar a arrebentar com o bispo, botar pra foder, como se diz por aí.
-Esse é o Scott que eu conheço.
-Vamos precisar usar nossas capacidade de alteração, está disposto viado?
-A sentir todas aquelas dores, e aquelas coisa circulando no corpo com o nosso godsmack? Ele ria alto. Adoro, estou mais que preparado.
-Tem mais uma coisa.
-Diga meu bem.
-O bispo pegou ela.
O pavor no rosto de Roberto era indescritível, ficou pálido na hora, sua boca entreaberta não emitia nenhum som.
-Vamos precisar agir com cuidado, eles estão com ela, e a coisa é muito delicada agora.
-Eu...eu...não acredito...porque você demorou tanto pra me dizer?
-Exatamente por isso.
 -Você sabe o que podem estar fazendo com ela nesse exato momento?
   -Se eu conheço bem aquele cretino, ele ainda não começou, ele está deixando ela pra um momento especial, falava isso com raiva contida.
-O Eddie, o que vamos fazer com ele?
-Ainda não sei, minha vontade é de dar fim nele, pra acabar com essa história também.
-Não seja idiota, ela mataria você se você tocasse num fio de cabelo dele.
-Eu sei, e isso é o que mais me irrita, ter que cuidar dele, por ela.
-Ele nem sabe que tem pequenos dons.
-Você está me dizendo que ela...
-Sim um pouco, pra deixar ele meio protegido, sabe como é, ela tem medo que algo aconteça com ele, ela fez ele ingerir sem saber, ele deve ter desenvolvido alguma coisa mas não sabe.
-Caralho!
-Bem, meu querido, precisamos agir, você vai procurar o filho da puta?
-Sim, é nisso que estou pensando agora.
-Mas então, primeiro temos que pensar o que vamos fazer com o Eddie, ele vai me procurar com certeza.
-O problema, é que o idiota do Layne foi lá, na casa deles, procurar pela irmã, e deu margem para a desconfiança do outro, percebe agora? Que qualquer coisa que façamos ele vai desconfiar, ele vai querer falar com ela, perguntar onde ela está, o cara não é um idiota completo.
-Porque você o menospreza tanto assim? Porque ele a tirou de você? É isso?
-Cala essa boca viado do caralho! Ele não me tirou nada, ela nunca me deixou de verdade, ela sempre volta, ela está sempre comigo, ele é só o cara bonzinho, que encantou ela.
-Não é bem por aí, sabemos bem disso.
-Olha, aqui, Scott estava começando a ficar irritado, não vamos ficar aqui discutindo sentimentos, não é hora pra isso, não vê? Preciso pensar e você tem que me ajudar, mais que porra! A minha vontade é de invadir aquela merda que ele chama de igreja, arrebentar com tudo.
-E acha que fazendo isso ele ia te entregar ela.
-Sei que não.
-Vou pra casa, o garoto está lá, você procure o brinquedinho e faça o que achar melhor, não quero saber, apenas mande ele ficar quieto e esperar, se eu precisar, vou mandar meus rapazes levarem ele a força daqui entendeu? Deixe isso bem claro pra ele, ele nunca quis se envolver com a gente, bem, agora é a hora dele ficar bem longe e me deixar agir. Virou as costas e saiu, sem mais. Roberto sabia que esse era o jeito de Scott finalizar as ordens, e que sua palavra era definitiva, ele teria que dar um jeito de controlar Eddie, e fazê-lo ficar a salvo, se se envolvesse agora, seria aniquilado num piscar de olhos.
Scott caminhava rápido, fumava um cigarro, foi em direção a seu carro, dirigia veloz, chegou em casa, procurou por Layne, não o encontrou nos cômodos debaixo, sabia que deveria estar lá em cima provavelmente usando alguma merda qualquer, ele era completamente descontrolado, talvez agora com sua irmã refém, não conseguisse mais, talvez tivesse chegado no limite e estivesse tentando dar cabo da própria vida, já tentara tantas vezes, o rapaz era tão forte, nada do que ele tentou dera certo, quem sabe se cortasse o pescoço, talvez o ajudasse uma hora dessas,  o amava demais para  conseguir fazer isso, e ainda não tinha conseguido o que queria tanto.
Subiu, procurando pelos vários quartos da casa, encontrou Layne em um deles, estava realmente jogado numa cama, mas não parecia estar drogado ou nada parecido, ao contrário, estava quieto, mas não dormia.
-Layne.
-Sim, estou acordado, não posso fechar meus olhos sem imaginar por um segundo sequer onde ela pode estar, e o que estão fazendo com ela agora. Começou a chorar.
-Acalme-se, ela deve estar em algum lugar, como reserva de negociação, mantenha a calma, ok?
-Aquele verme, não é tão burro assim, ele não ia usar seu maior trunfo na primeira jogada, ela será sua última carta.
-Pode ser, mas eles podem estar machucando ela, como das ouras vezes, ela não vai suportar mais isso Scott.
-Sei, me lembro o que você da última vez, um trabalho e tanto com aqueles quatro, mas o jogo agora é mais complexo, o cara quer algo mais, ele quer o poder completo, talvez queira negociar minha rendição em troca.
-E se não quiser? E se estiver só nos eliminando mesmo?
-É o que vamos ficar sabendo logo.


terça-feira, 28 de abril de 2015

CARTA DE SUICÍDIO




Vou deixar uma carta para você, não porque eu acredite que irá ler, sei que não irá, mas por todos os momentos que vivemos, gostaria de deixar essa miserável marca no mundo, tão pequena que passará desapercebida, ninguém saberá ou se importará.
Você foi com certeza um amor inesquecível e brilhante, iluminou meus dias escuros, eram tantos. E por todo este longo breve momento que fez parte de mim, eu senti um pouco da vida, você me trouxe calor e felicidade, mas tudo tão breve e passageiro que no final das contas acabou destruindo ainda mais rápido minha existência.
Você era como o sol de uma tarde morna aquecendo meu coração gelado. ]seu sorriso era tão lindo e puro, sua voz rouca e sedutora me dizendo palavras vazias, agora eu sei.
Depois daquela noite, quando não mais me procurou, meus dias se tornaram de uma escuridão infinita, minha tristeza agora é imensa e dolorosa, não posso mais sentir essa dor, está me matando lentamente, e um suicídio lento, não é um bom caminho, não posso mais me arrastar pelos dias, não suporto mais a terrível esperança de um dia poder olhar em seus olhos, sei que não acontecerá.
Meus olhos irão se fechar de forma lenta, espero não dolorosa, já sinto dor demais, meu corpo inteiro chora, minha alma me abandonou, meu olhar esfriou, meu sangue congelou, sou agora uma estátua sem vida, então pela ironia da coisa é melhor terminar.
Quando me chamava de raio de sol, me fazia brilhar, quando me tocava docemente me fazia forte. Nunca mais sentirei isso, nunca mais o calor de sua voz em meus ouvidos, a felicidade de tocar seu corpo e apenas conversar desligadamente, enquanto fumávamos nossos cigarros.
Momentos tão simples e tão importantes que dividíamos, uma lata de cerveja, um passeio no parque, para depois voltarmos para nossa cama e ali sim eu podia sentir todos o amor que eu poderia te entregar.
Agora sou menos que uma sombra, sou nada, vazia e cheia de poeira, não continuarei, impossível passar mais um dia me lembrando de você, estou indo agora, em breve meus olhos se fecharão para sempre, já posso sentir um certo torpor tomando conta do meu corpo, o efeito dos comprimidos chegando, que alívio, agora logo não existirei mais, logo serei exatamente o que sinto, nada, vazia.

Amor querido, estou indo agora, minha agonia termina, meu último pensamento é seu.

domingo, 26 de abril de 2015


ME DEIXE MORRER EM SEATTLE

CAPÍTULOS III - IV


III


O conflito com os fanáticos religiosos começou quando Scott foi traído por um amigo, um grande companheiro seu, que partilhava do conhecimento e do uso do daquela droga que começou a transformar o grupo, eles começaram a usar em proveito próprio, mais como uma diversão experimental, antes esse bispo fanático, seu amigo era apenas um rapaz como ele louco inconsequente, quando aquele velho estranho os encontrou e os levou para sua casa e começou a mostrar as maravilhas daquilo, na verdade ele os usou como cobaias, e dois jovens, na época sempre buscando  qualquer coisa que os tirasse do chão, quiseram experimentar, e começaram assim a se tornar o que eram agora, aquele mexicano maldito os usou, e envenenou e continuou a fornecer a droga para os dois.
O velho nunca revelou porque lhes forneceu aquilo, nunca explicou seus motivos, e nunca demonstrou nenhum interesse financeiro para entregar o godsmack a eles, esse mistério era intrigante, mas nenhum dos dois tinha conseguido arrancar nada daquele velho estranho, que mal conheciam o que decorreria daí não interessava.
Os dois jovens eram inteligentes demais, aproveitaram a força que tinham e uniram à sua inteligência natural e se tornaram verdadeiros monstros dominadores, começaram a dominaram a cidade a seu modo, como não eram muito voltados para a bondade ou obras de caridade, obviamente estavam caminhando pelo lado do submundo, mesmo porque, sempre foram considerados vagabundos sociais, desajustados, como poderiam estar agora com todo esse poder voltados para obras de caridade? Sim iriam usar a força para dominar o mundo da escuridão, esse seria seu reino, amigos sempre, dominariam o mundo, seriam os reis do submundo, ninguém poderia com eles.
As coisas caminharam assim por alguns anos, a cidade estava controlada, as drogas, a prostituição, tudo era dominados por eles dois, ninguém, ousava desafiar os amigos estranhos, como costumavam dizer, mesmo porque, qualquer rebelião era tratada de forma cruel por Scott, qualquer desobediência, sofria um ataque feroz, a morte era dolorosa e torturante, os "funcionários deles evitavam desagradar os "patrões".
As coisas funcionavam assim, até que Scott resolveu que queria viajar novamente para países subdesenvolvidos, queria conhecer mais a miséria de outros lugares e ver como poderia tirar proveito disso também, queria aumentar seu poder, sua fortuna, estava pensando em fazer testes com a droga em algumas pessoas, longe dali, tentar entender o como funcionava, talvez descobrir como era feita.
Resolveu comunicar seu amigo da decisão.
-Vou viajar.
-Pra onde?
-Não sei ainda, estou pensando, quero ver como as coisas funcionando em outros lugares, estou querendo conhecer a pobreza os miseráveis de outros países, ver o que podemos tirar proveito, o que acha?
-Cara, temos esse país inteiro para fazer isso, veja, expandimos nossas ações por vários estados, temos um exército trabalhando pra nós, graças a nossa fórmula mágica, dava uma risada desagradável quando falava, conseguimos controlar essa porra toda, esses vermes que rastejam pelos becos todo o lixo humano que vive nessa merda, controlamos tudo, toda uma rede, podemos controlar tudo se quisermos cara, você é cheio de pudores, podemos jogar essa porra na água da cidade.
-Caralho, não, a coisa sai do controle, aí fode tudo, você não percebe? Não é assim, promovendo o descontrole que conseguimos fazer as coisas.
O caos, apesar de tudo deve ser controlado, o medo, deve ter como princípio, o fim, deve haver a esperança da libertação, da salvação, você nunca vai entender isso?
-Eu entendo ok, está certo, faça suas viagens, conheça essa gente, veja o que rola, traga novas drogas cara, vamos aumentar nosso poder.
-Vamos cara, vamos, agora vou pro quarto, quero fumar meu ópio preciso viajar um pouco, me acompanha?
-Vamos, também quero.
Foram para um quarto que era especialmente feito para o uso dos cachimbos de ópio, havia pessoas que ficavam para preparar os cachimbos.  Deixar tudo pronto e confortável para os chefes.
Depois que Scott partiu em viagem, as coisas mudaram, quando retornou com suas crianças   encontrou uma Seattle diferente, ele ficou fora por dois anos, encontrou a cidade modificada, cheia de igrejas das quais não se lembrava antes, de uma religião que jamais tinha ouvido falar.
Scott estava com os irmãos, os dois jovens que havia trazido do Brasil, foi direto para sua casa, a procura de seu amigo, a casa estava vazia, nem um dos funcionários que cuidavam da residência estava lá, a casa estava abandonada, a raiva ia aumentando, sentia que estava sofrendo alteração, não queria mostrar sua monstruosidade para aquelas crianças agora, não podia, precisava se controlar, queria estraçalhar alguém, ódio, onde estava aquele merda?
-Crianças, escutem, essa será nossa casa, preciso sair e resolver uma coisas urgentes, ele falava baixo, tentando controlar a raiva, aquele rosnado que lhe era peculiar.
Os irmãos ficaram na casa, sem saber direito o que estava acontecendo, Layne se sentou no sofá e pareceu distante como sempre, Penny começou andar pelo cômodo, e observar a mobília com curiosidade.
-Vamos olhar os outros lugares da casa?
-Pode ir, vou ficar aqui, acho que não há nada demais para ver nesse lugar.
-É só curiosidade mesmo querido vamos comigo, essa casa enorme, e estranha, você não acha?
-Tudo por aqui é estranho não é mesmo?
-Acho que sim.
-Acha, você sabe que sim, porque as vezes você se faz de boba? Porque finge não saber das coisas?
-Pare com isso Layne, vamos andar por aí quero ver o tem nesse lugar, Scott é tão estranho não é mesmo?
-Então porque aceitou vir pra cá com ele?
-Porque você está me atacando desse jeito? está arrependido? pensei que você também queria ter saído daquela merda que a gente vivia.
-Sim, trocamos uma merda nas ruas, por uma merda de luxo.
-Nossa não estou entendendo você, parece que está com raiva de tudo, antes parecia bem, agora, mudou o comportamento.
-Esquece, vamos andar por essa casa e bisbilhotar como você quer.
Ele parecia contrariado, mas tentou não passar isso para a irmã no momento, sabia que havia alguma coisa errada, sua irmã também devia saber, mas parecia deixar passar, ou não queria pensar nisso agora, as coisas, não seriam tão tranquilas como Scott tinha feito parecer quando os tirou do Brasil.
Vasculharam vários cômodos da casa, era uma casa imensa, eles nunca tinham estado numa casa tão grande assim, aquilo não impressionava o garoto, mas a menina bem, era uma garota, e gostava dessas coisas, conforto, luxo, beleza, essas coisas de mulher, a casa era luxuosa, moderna para a época, ficava numa região afastada da cidade, não tinham vizinhos que pudessem avistar pelas janelas. Ao mesmo tempo em que viam conforto e tranquilidade, podia-se sentir ali, um estranhamento no ar, coisa que Layne sentira desde o primeiro momento que entrara, o rapaz possuía uma sensibilidade apurada, estava sempre atento, apesar de transmitir sempre um ar distraído e por vezes apático, talvez fosse essa sua defesa, assim passava despercebido, porém observava com atenção tudo e todos.
-Veja, aquela porta, que estranho não é, onde será que vai dar, não parece ser um quarto, será o porão?
-Deve ser, deixe, vamos voltar para aquela sala, venha.
-Vamos espiar lá.
-Não! ele respondeu com raiva, sentia calafrios de pensar em entrar naquele lugar, queria sair de perto daquela porta o mais rápido possível, não sabia explicar.
Era o cômodo particular de Scott, usado para suas visitas sexuais, ele nunca usava seu quarto pessoal, tinham um exclusivamente para suas estranhas diversões.
-Vamos voltar para aquela sala, ok?
-Ok, desculpe, não queria deixar você bravo.
-Não estou bravo querida, mas você está exagerando, acabamos de chegar nesse lugar e você já está mexendo em tudo, o cara nem está aqui, porra, queria fumar um baseado
-Layne, você não tem jeito mesmo.
-Sou uma alma perdida irmãzinha, você sabe disso.
-Não diga isso, você é meu anjo protetor e sabe bem disso.
-Sou mais seu demônio protetor e você minha bruxinha, não é mesmo? Somos dois diabinhos nessa terra maldita.
Os dois riram, afinal viviam soltos pelo mundo há tempos, não faziam questão de fazer as coisas da maneira correta, e pareciam se divertir bastante assim, esse fora um dos motivos que fizera Scott escolhê-los quando os vira, depois de passar em revista suas mentes, se apaixonara pelos dois, apesar de serem estranhos, tinham almas que queriam elevação, viviam um conflito torturante, isso era apaixonante.
Voltaram para a sala, Layne voltou a se sentar no mesmo lugar em que estava antes da expedição pela casa, a irmã sentou-se numa poltrona ao lado, mas parecia inquieta.
-Você não consegue ficar parada não é mesmo?
-Não, essa espera, ficar aqui sem fazer nada, é uma coisa irritante, você não acha?
-Na verdade não, pouco importa.
-Me lembro sim.
-O que?
-Mamãe.
-Ah sim, eu sei que lembra.
-Ela era daqui, não é uma estranha coincidência?
-Será mesmo uma coincidência? Será que esse cara não foi atrás da gente com algum propósito, sabendo quem nós éramos?
-Você acha mesmo, que isso pode ser?
-Não sei, que se foda, vamos fumar?
-Não tenho cigarros.
-Eu tenho.
Estendeu o maço para Penny, acendeu o cigarro para ela como um perfeito cavalheiro, o rapaz era uma mistura intrigante de malandro e anjo, uma agonia de se ver tanta beleza numa mente tão conflitante.
Ficaram por ali esperando que o dono da casa voltasse, o que demorou para acontecer, porque Scott estava ansioso em busca de notícias nas ruas, queria saber exatamente o que estava acontecendo, e o que significavam aquelas igrejas novas, se era mesmo o que ele estava pensando, se seus pensamentos seriam confirmados, e se fosse verdade, as coisas iriam se complicar bastante.



Foi arrancado brutalmente das lembranças com o final do efeito da viagem, abriu os olhos, estava deitado naquele sofá imundo ainda, não conseguia saber há quanto, não conseguia saber direito como tinha ido parar ali, precisava se situar aos poucos, sua cabeça doía, seus olhos não enxergavam, estava tudo escuro, nenhuma luz para um direcionamento. Mas aos poucos foi se adaptando à escuridão, se lembrando porque estava ali, só não sabia há quanto tempo. Estava sozinho realmente, começou a andar, o lugar estava uma bagunça, sujo, cheio de seringas espalhadas, pó, latas de cerveja, garrafas de vodca, as janelas estavam abertas, o frio era cortante, a chuva entrava, ele estava gelado, talvez por isso tenha acordado, o fim da viagem e o frio acabaram despertando Layne, procurou o casaco com que havia chegado, estava jogado num canto no chão, vestiu o casaco, mas parecia não ser suficiente, estava procurando um pouco mais de heroína, não havia mais por ali, havia consumido toda, um inferno aquilo, que droga infernal! Uma pessoa normal sem o demônio que ele tinha por dentro se matava muito facilmente com aquilo, ele precisava sair às ruas e ver isso de perto. Achou pó ali num saquinho na mesa, esticou dois tiros, o efeito daquilo foi suficiente para acelerar seu metabolismo e aquecer de certa forma seu corpo. Precisava sair daquele chiqueiro, saber que dia era, precisava saber notícias da sua irmã, precisava ir embora, precisava morrer.



Scott há tempos tentava aniquilar seu ex amigo, agora um inimigo mortal, mas ainda relutava, talvez pelos velhos tempos, ou por não conseguir mesmo, por serem iguais, terem a mesma força, talvez não pudessem, se conheciam muito bem, conseguiam apenas eliminar as criaturas que iam sendo criadas ao longo do tempo para fazer o trabalho sujo por eles, aqueles que ficavam nas ruas, ou aqueles que serviam nos testes, a massa que estava sendo manipulada, na verdade uma parte dessa gente se auto destruía mesmo, nem era necessário tanto trabalho assim, Scott tinha preguiça de lidar com a massa, preferia deixá-los a sua própria sorte, sua atenção se voltava a penas àqueles que considerava dignos de salvação, que despertassem seu interesse em algum aspecto, que fosse por beleza, malícia, inteligência, ou até mesmo pela pureza, o que fosse, se a criatura chamasse sua atenção ele faria alguma coisa e traria para sua proteção, se não, largaria pela cidade. a cidade inteira enfrentava uma onda de violência, e fanatismo religioso nunca antes vista, Scott sabia que o causador disso era o bispo, ele havia se tornado um fanático maldito, hipócrita, ele usava uma religião torta e distorcida, que abusava da ignorância do povo, se dizia ungido pelo Senhor, tirava dinheiro dos fiéis, arrancava tudo dos pobres coitados, na garantia de terem seus lugares garantidos nos céus, e que o sofrimento na terra era para livrá-los dos castigos do infernos, que deviam agradecer esse sofrimento, que deviam doar tudo o que tinham e se flagelar, em penitência, para assim alcançar o paraíso, se livrando do demônio que anda na terra, o demônio que está em todos os lugares.
Esse maldito filho da puta, distribui aos fiéis de sua seita, "água santa", onde coloca pequenas doses da droga criada pelo antigo bruxo mexicano, batizada com o irônico nome de godsmack. Essa porra dessa droga causa surtos de medo e paranoia, momentos de violência e descontrole de personalidade, é isso o que ele quer, assim ele consegue disseminar na população que o demônio está caminhando na terra, e começa a amealhar as almas perdidas e aterrorizadas, sem saber onde encontrar alívio de seus males, acreditar com sua ignorância que lá está sua salvação. Essa merda toda ele vem disseminando pelo mundo há algum tempo e Scott, vinha lutando contra isso há tempos, mas as coisas não melhoravam, pareciam a cada dia fugir mais ao controle de ambos os lados. Scott andava pelas ruas, falavas com as pessoas, entrava nos inferninhos, trocava algumas palavras com as putas nas ruas elas gostavam dele, ele era sempre gentil com todas, até mesmo com os travestis Scott era gentil, sabia como era difícil a vida dessa gente nas ruas, e afinal a maioria estava ali trabalhando e sempre tinham informações para ele, costumava as vezes dar dinheiro ou drogas para eles, eles o adoravam, as putas sempre se ofereciam para o sexo, ele recusava delicadamente, não gostava de putas de rua, mas tinha carinho por elas, cuidava de todas.
-Hey Donna! Gatinha, como vai criança, era uma garota de no máximo vinte anos, uma novata nas ruas vinda de algum lugar do Texas, fugida dos maus tratos do padrasto alcóolatra e da mãe que não se importava.
-Scott querido, quanto tempo, veio para um pouco de prazer?
-Não docinho, hoje não, estou dando um giro pra ver como estão as coisas, ver como estão minhas meninas, tudo bem por aqui?
-Apareceram uns caras, pegaram a Peggy cortaram ela inteira.
-Ora, como não fiquei sabendo disso?
-Ela tava na pedra, sabe como é, ninguém mais dava atenção a ela.
-Porra, Peggy era minha traveca, como isso aconteceu?
Scott começou a falar com seu rosnado. A garota percebeu a raiva de Scott.
-Olha meu bem, me desculpe, eu não tenho nada a ver com isso, você pode chamar os rapazes e perguntar a eles porque não falaram com você, não fizeram contato.
-Ok docinho, vá fazer seu trabalho, falava com raiva contida, tentando parecer normal com a garota, beijou-a na testa, e deu tapinha no traseiro dela com um sorriso forçado, despachando a moça para que fosse embora.
Começou a andar em direção a um prédio onde sabia que acontecia o tráfico mais pesado, onde ficavam olheiros seus, onde tinha criaturas transformadas numa proporção bem pequena, farejadores em alerta, prontos para aniquilar os pastores do bispo.
Quando perceberam a aproximação de Scott, houve uma movimentação, alguns debandaram, saindo quase correndo da porta do prédio, outros foram se aproximando de Scott, prontos a atendê-lo, as mulheres que ficavam por ali, se afastaram em respeito, sabiam que Scott queria falar com os homens a sós.
-Vamos entrar.
Subiram para o primeiro andar, um apartamento que era mais confortável do que a fachada destruída aparentava, mantido por Scott obviamente.
-Me fale de Peggy
 -Olha chefe...
-Olha o caralho! A raiva era imensa, ele estava descontrolado.
-Nós achamos que era uma coisa sem importância, entende?
-Quem fez isso com ela?
-Aquele viado não era nada.
-Escuta aqui seu filho da puta do caralho, quem determina se alguém era alguma coisa ou não aqui sou eu! E esse viado era meu! E eu não fiquei sabendo o que aconteceu, e nem quem fez isso com ele!
-Olha chefe, me desculpe.
-Me desculpe? O ódio de Scott era tão imenso que seu corpo começou a se repuxar, a pele começou a sofrer, e esticar, seus dentes ficaram proeminentes, o rapaz ficou assustado, apesar de saber o ocorria, sabia que Scott era feroz, e que poderia destroça-lo ali em segundos. Scott estava quebrando móveis tentando aplacar a ira, o rapaz estava num canto tentando fugir do campo de visão, ele falava de forma animal assustadora.
-Nunca mais...nunca mais...vou permitir que algo aconteça nessa merda sem que eu fique sabendo entendeu? Segurava o rapaz pela camiseta, falava tão perto do rosto do rapaz, que estava quase colado e via o pavor nos olhos dele, apesar dele ser um transformado, em menor escala, um soldado raso por assim dizer, ele sentia verdadeiro pavor de Scott.
-Nunca mais, vai acontecer Scott, eu garanto, falou num foi de voz.
Quando largou a camiseta do traficante viu que estava rasgada, ele havia arranhado o rapaz, sem perceber sua raiva, que se dane, sua vontade era de ter arrancado o coração ali mesmo.
-Descubra se foram os merdas dos pastores, se foram eles quero todos mortos, mas quero que sejam mortos no mesmo estilo, que sofram como a Peggy entendeu?
-Claro chefe, pode deixar, o serviço vai ser feito.
Saiu do apartamento sem mais uma palavra, o alívio do rapaz foi indescritível.




IV



Eddie passou todos esses dias esperando por ela em casa, ele sabia que ela voltaria, sempre retornava, era uma coisa difícil de lidar, por vezes tinha vontade de deixar tudo e ir embora, já chegara a deixar aquela casa, passou alguns meses longe de tudo, deixou uma carta explicando que não podia mais lidar com tudo aquilo, que a amava sim, que ela era e seria para sempre o seu eterno amor, mas que era muito difícil para ele lidar com os outros, se referia a Scott e Layne, ele sempre soube da ligação doentia dela com Scott, e do amor problemático com o irmão, sempre entendeu os dois lados, nunca questionou. Quando a conheceu, foi em meio ao tumulto da sua vida, ele a acolheu, ela nunca mentiu, ele sabia, e aceitou aquilo.   
Quando a deixou foi a coisa mais dolorosa que fez em sua vida, sofreu muito, não sabia que rumo tomar, não conseguia decidir o que fazer da vida, viajou para alguns lugares, sem definição para trabalho, nada, achava que estava enlouquecendo, começou a beber descontroladamente, não aguentou, estava tentando se matar, não podia mais continuar, resolveu voltar, em nenhum momento, ela o procurou, e quando retornou, e se deparou com ela, ela estava em casa, sim era apenas uma sombra da sua mulher, um fantasma, sentada numa poltrona no quarto do casal, olhando para fora, pela janela, a chuva que caía insistente naquela cidade, chuva eterna, ela estava tão magra, sua pele, cinzenta, seus olhos vazios, vestia um pijama que parecia há séculos não ser trocado, os cabelos escorridos e sujos, o quarto, não era arrumado ao que parecia desde a sua partida, provavelmente ela não tivesse saído daquele cômodo para quase nada, a casa quando entrou estava do mesmo jeito, até mesmo o cinzeiro que estava na cozinha quando partiu, estava lá com as bitucas dos cigarros que ele havia fumado, do mesmo jeito, tudo igual, parecia que nenhum dia havia se passado na casa, ela não movera nenhum copo ali dentro desde a sua saída.
-Querida.
Ela o olhou como quem olha para uma assombração, os olhos se arregalaram.
-Eddie!
Ele a arrancou da poltrona com raiva, a segurando nos braços com força num abraço raivoso.
-O que aconteceu com você?
-Eu...não posso...
-Me perdoe, eu achei que podia esquecer tudo isso, ficar longe dessa loucura toda, essa maluquice, mas não posso, meu bem, não posso ficar sem você, que se foda o resto, preciso ficar com você, me perdoe.
-Você está aqui, eu nem acredito. Ela o agarrava pelo pescoço como para garantir que era real sua presença, chorava.
-Por favor, não me deixe assim, eu queria morrer e não conseguia, tentei tantas vezes acabar com tudo e não pude, essa merda dentro de mim não deixa eu acabar com tudo.
-Graças, eu não poderia continuar se você terminasse, devo agradecer essa merda então, me perdoe querida, fui fraco eu sei, não deveria ter partido e deixado você aqui com os animais, agi errado, fui covarde.
-Chega, não quero ouvir isso de você, de todos nós, o único que não pode ser condenado a nada é você, você é meu anjo, minha salvação, sem você eu já estaria queimando no inferno, o demônio já teria levado minha alma danada, você Eddie, foi o único que não pôde ser atingido pela droga, e eu agradeço tanto por isso, você é tão superior a todos nós, e eu sou tão baixa, você sabe porque estou dizendo isso.
-Ora, esqueça, veja você, como está magra meu bem, o que andou fazendo? quanto pó você cheirou aqui sozinha?
-Não sei te dizer. Tentei fazer uma overdose e não consegui, tentei de tudo pra me matar, não consegui.
-Querida...
Eddie tinha lágrimas nos olhos, pegou sua amada com cuidado no colo e a levou para a cama, a deitou e ficou ao seu lado abraçado apenas, sentindo o contato de seu corpo, queriam apenas a felicidade de estarem unidos novamente, ela não tinha condições de nada além disso nesse momento, estava completamente debilitada e doente, dormiu nos braços de Eddie como se fosse uma criança que reencontra o carinho perdido e se sente protegida novamente, ele chorava baixo, sua tristeza.



Só que dessa vez ele não partiria, ele ficaria e a esperaria, as coisas estavam se complicando, ele não a deixaria com Scott, ele já a fizera sofrer demais, já a machucara física e psicologicamente por muitos anos, não gostava de Scott, nunca gostou, eram rivais declarados, quando conseguiu resgatá-la de  Scott, foi talvez o dia mais feliz da sua vida, ele afinal deu paz ao casal, viu que não podia mais lutar com o amor deles, mas ainda assim, detestava saber da ligação dos dois, não sabia direito o que acontecia, nem queria saber, só sabia que a ligação era muito forte, mais intensa do que gostaria, ela tinha lá uma devoção estranha que ele não entendia muito bem e não podia pedir que ela renunciasse a isso, ela amava Scott a seu modo, era uma ligação estranha, ele era de certa forma o criador dela, ele a fizera do jeito que era hoje, ela e o irmão, então que chances ele tinha de lutar contra esse homem? Resolvera aceitar isso sem discutir se era certo, bom ou ruim, era assim e a amaria sempre, estranho ou não, ele também era desajustado não é, fora por isso que seus caminhos se cruzaram, então que fosse, estariam sempre juntos. Jamais iria conviver com Scott, sentia uma aversão natural, ciúme, seja o que fosse.



Ela estava pronta para voltar para casa, Scott já sabia que ela iria embora, era bom, ele precisava acertar contas com o bispo, e não queria ela por perto, iria pegar uns dois ou três para descontar o que fizeram com Peggy a travesti.
-Você tem certeza que vai fazer isso?
-Claro garota, não vou deixar aquele merda agindo por aí, já chega a bosta toda que anda fazendo na cidade, não vai pegar minha gente pra se vingar de mim, esse fanatismo religioso, essa merda que ele criou, isso nem é real, ele inventou tudo, falsa igreja do caralho.
-Eu sei, vamos com calma, preciso ir embora, ver o Eddie, ele deve estar preocupado, não posso deixar ele sozinho, tenho medo que apareçam por lá e façam mal a ele.
-Ninguém vai chegar perto do seu brinquedinho garota, sempre tem gente minha olhando aquela casa.
-Eu agradeço, mas mesmo assim preciso voltar, sinto a falta dele.
Scott pareceu contrariado com essas palavras, foi até a escrivaninha que estava a um canto, tirou um saquinho com pó, esticou alguns tiros ali numa pequena bandejinha de prata, aspirou dois, e levou até ela o restante, fazendo com que ela aspirasse, começou instantaneamente a passar as mãos pelo pescoço dela, segurando com força os cabelos, e virando seu rosto para beijar sua boca com violência, as mãos começavam a descer para os seios, rapidamente para o meio das pernas, ela usava um vestido leve, Scott, já enfiava a mão dentro da calcinha e a empurrava para o sofá, ela obedecia ansiosa como sempre.
-Venha garota, seja minha mais uma vez.
-Ahh...Scott...
Ela não tinha como evitar o contato com Scott, ela amava Scott de forma diversa a Eddie, era um amor doentio, violento e submisso, ela dependia dessa dor, com Eddie era o amor puro, doce, vital, que era necessário para sua sobrevivência sem Eddie ela não continuaria.
Scott mais uma vez a violentava com desejo animal.



Partiu para casa para encontrar Eddie, precisava sair de perto desse mal todo, sabia que agora Scott agiria com violência contra os inimigos e precisava se refugiar por um tempo, estava com medo apesar de saber ser tão forte quanto Scott, mas agora tinha Eddie, não queria participar da coisa nesse momento.
Estava ligando o carro quando sentiu o puxão no cabelo e algo gelado encostando na sua garganta.
-Quieta, agora, tira a mão da chave bem devagar.
Eram dois, um deles já estava com a seringa injetando a coisa que a impedia se se transformar, que congelava seu sangue, ela estava em pânico. Rapidamente a tiraram do banco do motorista, um deles assumiu o volante, ligando o carro e partiram, o outro a puxou para o banco de trás amarrou suas mãos com uma fita adesivas, dessas ultra resistentes, e começou a falar coisas nojentas pra ela, de como a machucariam e a violentariam agora que ela era a presa preciosa.
-Vamos brincar com você, coisinha deliciosa, passava as mãos grosseiras no meio das pernas dela, até chegar na calcinha, e enfiava os dedos dentro dela com força, ela apenas fechava os olhos, em desespero.
-Uh, que delícia, e forçava mais pra dentro os dedos. Imagina quando eu enfiar meu pau, que gostoso que vai ser hein.
-Hey cara, calma aí também quero brincar com essa delícia.
O homem que estava com ela no banco de trás, a machucava com as mãos e falava essas nojeiras, lambia seu rosto e sua boca.
-Gostosa, meu pau tá duro, acho que vou fazer você chupar ele agora mesmo.  Gargalhava enquanto enfiava a mãos mais fundo dentro dela.
Eram homens do bispo, que tinham recebido ordens de raptá-la, ele decidira declarar guerra abertamente a Scott, decidira exterminar todos os inimigos, queria purificar a terra, e ser o líder santificado e escolhido com o poder supremo para abençoar a terra e dominar com o medo a população, para isso precisava eliminar os mais fortes, precisava pegar as pessoas mais importantes para Scott os dois irmãos, começou pela garota, o rapaz era mais difícil de ser achado.
Seguiram as ordens expressas do bispo e a levaram para um lugar onde jamais poderia ser achado por alguém de Scott.



A noite já havia caído, escura fria, a chuva infinita naquele lugar, Layne andava por aquela cidade como se não sentisse o frio nem a chuva, parecia  mais uma fantasma caminhando, passava quase despercebido, pelos lugares, sempre detestou chamar a atenção para sua pessoa, usava sempre uma calça jeans, botas no estilo coturno, camisetas e jaqueta de couro, a coisa mais comum naquele lugar, naquela época era bom estar com luvas, sim, mas ele não as tinha agora, procurou por cigarros nos bolsos da jaquetas, acendeu um, o frio estava realmente cortante, achou que precisava pelo menos ligar para sua irmã e deixar um recado dizer que estava ok. Procurou um telefone, começou a discar, esperou o toque de chamar, nada, direto na caixa de mensagens, estranho, ela nunca desligava o celular, justamente para poder receber seus recados sempre que precisasse. Layne se sentiu inquieto, talvez fosse apenas uma coincidência, a bateria tivesse arriado, mas ele sabia que não.
-Eddie, vou falar com ele talvez ela esteja lá.
Discou para o amigo.
-Eddie?
-Quem é? Tom desconfiado.
-Layne cara.
-Hey!  Rapaz onde você está? Está perto? Venha para casa.
-Não, ela está aí com você?
-Não, foi pra lá, estou esperando ela voltar, deve estar para voltar por esses dias, não sei direito, porque? Tem falado com ela?
-Não cara, não falo com ela há muito tempo, desde que saí de lá, você sabe, apenas deixo recados, mas contato direto, não tenho feito, acontece que tentei ligar...sei lá, precisava entende, não sei explicar, mas ela não atendeu, caiu na caixa postal, achei estranho, só isso, por isso liguei pra você achei que estavam juntos, mas tudo bem, ela deve estar numa brisa sei lá, alguma coisa assim, você sabe como é.
-Sei, mas mesmo assim fico preocupado, sei que estão cuidando dela e tudo mais, mas tudo me preocupa, garoto, você pode vir pra podermos conversar um pouco, você passa a noite aqui.
-É melhor não cara, não estou em condições.
-Porra, acha que sou tão puritano assim? Você pode vir pra cá, se quiser passa a noite aqui, usa seus baratos por aqui mesmo.
-Não, é arriscado, por você cara.
-Ok, me dê notícias.
-Ok.
Desligou o telefone, mas a preocupação apenas aumentou, sentia que havia alguma coisa errada, seria hora de procurar Scott? Era o que mais temia. As dores recomeçaram, a angústia, a cabeça girava, o estômago embrulhado de nojo, teria que se encontrar com Scott novamente, as lembranças voltando com força, as palavras ecoando outra vez nos seus ouvidos, aquilo tudo, ele não queria, não podia lidar com tudo aquilo outra vez, não ia conseguir.
-Eu preciso.
Começou a caminhar rapidamente, sentia dores, mas precisava, sua antiga casa era longe, afastada estava a pé, não haveria outro meio de chegar lá, teria que caminhar, parou numa ruela estreita, cheirou um pouco do pó que trazia.
-Bem, pelo menos agora as dores vão passar por um tempo, e vou andar mais rápido, que se foda.
Caminhou por algumas horas, sempre parando em lugares vazios, cheirando seu pó maligno, ficando acelerado, com o corpo enrijecido, fumando um cigarro atrás do outro, sem sentir a chuva que caía, usava uma jaqueta de couro apenas, os cigarros se molhavam com a chuva, ele maldizia o tempo com os dentes trincados, e caminhava, em breve estaria chegando. Tinha vontade de voltar atrás, não queria encontrar com aquele homem nunca mais na sua vida, jurara para si mesmo que não pisaria naquela casa nunca mais, toda aquela merda que ele cuspira na sua cara era mentira, não fazia sentido, ele era um pervertido nojento, e usava isso tentando perverter e corromper todos ao seu redor, fizera isso com sua irmã, a forçara e ela acabara se submetendo aos desejos daquele homem, porque Scott fez isso? porque se tornou aquele homem asqueroso, era como um amigo querido no começo, depois começou a mostrar sua verdadeira face, e os enganou, os fazendo ingerir aquela merda, que os fez serem o que eram hoje, essa coisa maldita, Scott os amaldiçoara mais do que já eram malditos, já tinham passado por tantas coisas juntos, ele e a irmã, e Scott apareceu prometendo coisas, e ajuda, que no começo pareciam verdade, e depois os jogou naquela guerra particular, que se transformou numa coisa sem fim e se espalhou por toda a cidade, crescendo a cada dia, contaminando tudo, pessoas inocentes, aquela coisa entre ele e o bispo, cresceu tomando proporções sem controle, atingindo pessoas que nem imaginavam estarem sendo alvo das vaidades daqueles dois monstros.
Estava perto da casa, suas pernas tremiam, seu corpo todo tremia, estava encharcado, seus cigarros tinham acabado, seu pó também, sentia raiva, muita raiva, já podia ver a casa, luzes acesas em várias janelas.
Estava na porta de entrada, ela se abriu, Layne se assustou, ele não havia tocado o interfone ou batido, era Scott.
-Se não é o garoto de volta.
-Não estou de volta.
-Então porque está parado na minha porta?
-Onde ela está?
-Foi embora, você estava na periferia? Bem, entre garoto, vamos, troque de roupa pelo menos.
-Não é necessário.
-Você é quem sabe, mas que porra!
-Quando vocês saíram de lá?
-Ontem, ela saiu, foi pra casa, voltou para o brinquedinho dela, estava com saudades.
-Ela não chegou em casa, eu falei com Eddie, ela não apareceu por lá ainda, ele pensa que ela ainda está com o pessoal.
-Hey, o que você está dizendo? Calma aí, ela foi embora, pegou um carro, eu vi.
-Caralho Scott! Layne estava perdendo o pouco controle que ainda tinha.
-Estou te falando, mas que porra! Ela não está em casa, não chegou, aconteceu alguma coisa! Você precisa colocar esse bando de filhos da puta que trabalham pra você pra descobrir o que aconteceu, ela não vai aguentar, entende? Se pegarem ela de novo, e ela passar por aquelas coisas outra vez, ela não vai aguentar, Layne estava completamente fora de si ele gritava e andava de um lado para o outro.
Scott o puxou para dentro da casa, a chuva tinha aumentado, o frio era intenso e era arriscado ficar ali fora com a porta aberta àquela hora.
-Entra caralho!
Entraram. Layne estava acabrunhado de ter que pisar ali de novo, estava ensopado, com frio, deprimido e cansado da longa caminhada e Scott não fazia menção de convidá-lo para sentar-se.
-Pode me arrumar um cigarro?
-Tome, fique com o maço, o que aconteceu com você rapaz, está um trapo, andou se perdendo o suficiente pra ficar sem nada?
-Não é isso, o assunto não sou eu, ok? Você vai fazer alguma coisa, ou vou ter que procurar sozinho?
-Acha que consegue achar ela sozinho? Suas capacidades evoluíram a este ponto? Já pode voar também? Foi assim que chegou aqui? Scott ria irônico.
-Não, vejo que não foi, pelo seu estado, veio na caminhada não é?
-Caralho, vou embora, já te dei o recado, vou atrás dela.
Layne começou a se dirigir para a saída, mas Scott o interrompeu.
-Layne.
Dificilmente ele o chamava pelo nome, isso o paralisou, mas continuou de costas para Scott.
-Fique, preciso que fique aqui, me ajude, algo aconteceu, na verdade, algo está acontecendo, aquele merda, está começando um ataque ao nosso pessoal, acho que pegaram ela.
Layne estremeceu ao ouvir aquilo, não podia ser verdade, sua irmã, nas mãos daquele fanático, suas mãos se fecharam numa raiva contida, ele fechou os olhos, não queria acreditar na que tinha ouvido, respirava com dificuldade.
-Pegaram uma travesti, estão atacando o pessoal nos becos, tem sido ataques ao pessoal das ruas, com pequenas mensagens, ele quer exterminar o mal da cidade, e "nós" somo o mal, aquele filho da puta!
O ódio de Scott o fazia rosnar, nessas horas era possível ver o quanto ele podia ser cruel, seus olhos mostravam todo ódio.



Eddie continuava esperando, sabia que algo estava errado, não era comum o irmão aparecer assim procurando por ela, eles se comunicavam lá do seu jeito, alguma coisa fora do comum estava acontecendo, ele sabia, ela estava demorando para voltar, isso também, não acontecia, ela nunca ficava tanto tempo assim sem dar notícias, ele não queria ter que entrar em contato com aquele outro mas se precisasse, se as coisas estivessem novamente fugindo do controle, se ela estiver em apuros  novamente, o pior era que Layne nunca deixava um telefone de contato, ele sempre vivia como um fantasma, sempre desaparecendo, vivia errante se drogando por aí, só pelo fato de ter aparecido, já era mais do que suficiente para deixar Eddie completamente certo de que as coisas iam começar a se complicar outra vez.