sexta-feira, 17 de abril de 2015

ESCRITOR INVISÍVEL


Todos os dias, sentado em frente a tela do computador, odiando o computador, gostava de escrever à mão.
O escritor invisível criava seus textos, sonhando que um dia seria lido por milhões, seu peito inchava de alegria quando pensava nisso, seu coração ficava agitado. Um dia.
Dia esse que nunca chegava, os anos passavam, a esperança enfraquecia, as garrafas se esvaziavam, sua glória era solitária.
Costumava se considerar um grande literato, sim, era melhor do que a maioria costumava dizer para seus companheiros no bar, podia escrever como um deus, seus textos eram inigualáveis, batia no peito quando falava. Seus camaradas davam risada e concordavam com silenciosos movimentos de cabeça.
Quando já se sentia bêbado o suficiente para voltar para o inferno das letras, ele se despedia trôpego, procurava o garçom e pedia uma garrafa, para levar consigo. Essa garrafa ele nunca apreciava sozinho, seu ego estava sempre ali com ele, assoprando em seus ouvidos que ele era um mestre, ninguém poderia se equiparar.
Então porque diabos ele ainda não tinha se tornado um daqueles astros americanos, um daqueles escritores que eram puro sucesso? Porque ainda vivia rastejando, procurando por moedas?
Ninguém sabia de sua existência, seus textos nunca foram aceitos nem mesmo no mais reles jornaleco da cidade, nem mesmo o homem da banca de jornais sabia que ele era um exímio escritor de valorosas estórias, que causavam arrepios de emoções quando lidas.
Lidas por quem?                                                                                                               
Ele era invisível, por vezes nem mesmo no espelho conseguia ver seu reflexo, como um vampiro, que almeja a luz, ele almejava a luz do reconhecimento de sua obra.
Nunca fora publicado, nem uma nota sequer.
Morreu na sarjeta, caído, sem recompensas por ser tão brilhantemente ninguém.


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