ESCRITOR INVISÍVEL
Todos os dias, sentado em frente a tela do computador,
odiando o computador, gostava de escrever à mão.
O escritor invisível criava seus textos, sonhando que um dia
seria lido por milhões, seu peito inchava de alegria quando pensava nisso, seu
coração ficava agitado. Um dia.
Dia esse que nunca chegava, os anos passavam, a esperança
enfraquecia, as garrafas se esvaziavam, sua glória era solitária.
Costumava se considerar um grande literato, sim, era melhor
do que a maioria costumava dizer para seus companheiros no bar, podia escrever
como um deus, seus textos eram inigualáveis, batia no peito quando falava. Seus
camaradas davam risada e concordavam com silenciosos movimentos de cabeça.
Quando já se sentia bêbado o suficiente para voltar para o
inferno das letras, ele se despedia trôpego, procurava o garçom e pedia uma
garrafa, para levar consigo. Essa garrafa ele nunca apreciava sozinho, seu ego
estava sempre ali com ele, assoprando em seus ouvidos que ele era um mestre,
ninguém poderia se equiparar.
Então porque diabos ele ainda não tinha se tornado um
daqueles astros americanos, um daqueles escritores que eram puro sucesso? Porque
ainda vivia rastejando, procurando por moedas?
Ninguém sabia de sua existência, seus textos nunca foram aceitos
nem mesmo no mais reles jornaleco da cidade, nem mesmo o homem da banca de
jornais sabia que ele era um exímio escritor de valorosas estórias, que
causavam arrepios de emoções quando lidas.
Lidas por quem?
Ele era invisível, por vezes nem mesmo no espelho conseguia
ver seu reflexo, como um vampiro, que almeja a luz, ele almejava a luz do
reconhecimento de sua obra.
Nunca fora publicado, nem uma nota sequer.
Morreu na sarjeta, caído, sem recompensas por ser tão
brilhantemente ninguém.
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